Eu tive a sorte de nascer e crescer numa época onde ainda se faziam muitos dos quitutes pra família em casa. Vi minha avó fazer pães, roscas, biscoitos e toda uma sorte de guloseimas - em sua grande maioria "from scratch" -, da mesma maneira que a minha mãe os fazia, e também as empregadas que trabalharam lá em casa. Mas esse também foi um tempo onde os produtos industrializados começaram a tornar-se mais acessíveis e assumirem uma aura de "comida especial de fim de semana". Barras de chocolate não tomavam metade de um corredor de supermercado como hoje em dia e eram caras. Lembro de minha mãe comprar uma barra de chocolate ao leite de 200g e reparti-la igualmente entre a gente ao fim de um almoço de domingo e ainda fazer render o suficiente para uma próxima vez. Ela descolava o papel vermelho pacientemente na nossa frente e tinha cuidado ainda maior com o papel alumínio para não rasgar, fazendo a gente quase morrer de tanta ansiedade. Chocolate era tão especial e caro nesta época que foi praticamente impossível ter um bolo feito ou recheado de chocolate nas nossas festinhas infantis. De toda forma, a industrialização da comida foi rápida e a gente começou a ter acesso a um monte de coisa que a gente nem sabia que existia.
Minha fase foodie começou com guloseimas assim. Coisas de supermercado, produtos diferentes, um biscoito aqui, outro lá, embalagens coloridas. O tempo passou e uma das novidades que surgiram no mercado brasileiro foram os cookies, biscoitos rústicos americanos normalmente com pedaços graúdos de chocolate na massa. Os primeiros que provei eu achei deliciosos, até ter acesso à receitas, replicá-los em casa, e descobrir que os industrializados eram de uma enganação sem fim.
Cookies não são os biscoitos mais bonitos que você viu por aí. Na maioria das vezes, eles parecem massa de bolo que escorreu pra fora da forma e acabou assando no assoalho do fogão. Mas eles são gostosos. E quando você aprende a fazê-los em casa e percebe o quão fácil é, esquece automaticamente de qualquer produto industrializado que você possa gostar. E o mais legal é que uma receita excelente pra se fazer com crianças.
Aqui nos EUA, é normal encontrar biscoitos enormes, maiores que um pires de chá, oferecidos como sobremesa nos restaurantes. Eu não acho-os tão atrativos em tamanho gigante, gosto mais dos pequenos, justamente porque quanto maiores os cookies, mais feiosos eles são. Há várias possibilidades de sabores para estes biscoitos. A primeira receita do Blog foi uma bem diferente e gostosa, com ingredientes bem mineiros. Usando a mesma receita de base, alterei os ingredientes pra fazer este aqui. A base da receita é manteiga batida com açúcar e um agente agregador, como farinha de trigo, fubá ou outros cereais. Assim que você a domina, a imaginação é o limite. E não é nenhum bicho de sete cabeças, eu juro!
Desde que provei um parecido com este no Zak que eu venho querendo tentar replicá-lo em casa. Ele tem tudo o que um bom cookie deveria ter: crocância, perfume, leveza, sabor e ingredientes melhores que um comum feito com farinha processada de trigo. A textura lembra um pouco uma barrinha de cereal sequinha e pode ser feito com as gotas de chocolate amargo, como usei aqui, ou com uvas/bananas passa que devem ficar ótimas também.
Cookie de Aveia, Côco e Chocolate Amargo (rendimento: 24 cookies pequenos)
120g de manteiga sem sal em ponto pomada
130g de açúcar mascavo
canela em pó à gosto
1 ovo inteiro
180g de aveia em flocos
45g de côco ralado fino e seco
6g de fermento em pó
30g de farinha de trigo integral
80g de chocolate amargo picado
5g de sal kosher (ou sal grosso moído na hora. O importante é serem cristais irregulares e médios, pra dar contraste de sabor. Se não tiver, pode er o refinado mesmo).
Modo de fazer:
Eu cheguei à esta receita comendo o biscoito que fazem no Zak e identificando os ingredientes. Cheguei bem perto do dele, ficou inclusive mais gostoso. Eu só colocaria mais uma especiarias diferentes além da canela pra dar um tchan a mais. Fica a dica!